domingo, 16 de agosto de 2009

Uma ótima história para os amantes dos KARTs

Olá Amigos
Há pouco mais de uma semana, quando fui fazer uns exames rotineiros de sangue, enquanto esperava ser chamado encontrei uma daquelas revistas QUATRO RODAS com "validade vencida" de 2005, mas com uma informação riquíssima sobre a origem do kart no Brasil.
O que vocês vão ler é a íntegra da reportagem da Revista QUATRO RODAS de setembro de 2005, assinada por Marcelo Brettas. As fotos são do arquivo pessoal do próprio Brettas.

Obs.: eu atualizei a data do título para ficar tudo certo.

PUXEM AS CORDAS SENHORES!!!!!
Há 49 anos acontecia o primeiro torneio oficial de kart no Brasil

Agosto de 1960. Quatorze pilotos, divididos em dois grupos de seta, alinharam seus bólidos em uma rua do então deserto bairro Jardim Marajoara, no caminho do autódromo de Interlagos, em São Paulo. Um componente de cada equipe de apoio segura, com firmeza, um pedaço de cabo de vassoura amarrado a uma corda que, enrolada a uma polia, era puxada com toda a força para acionar os motores assim que o diretor de prova autorizasse. Difícil dar certo na primeira tentativa... Após um festival de enrola e puxa, finalmente tudo estava pronto para a largada.

Mas, antes de entrarmos nessas ruas, vamos voltar a fita um pouco mais, até meados da década anterior, quando dois engenheiros norteamericanos, especializados no desenvolvimento de carros para as provas de Indianápolis, resolveram usar motores de aparadores de grama e montar pequenos veículos de competição. Da junção dos nomes dos dois - Curtiss Kraft e Art Ingels - surgia o nome "Kart", utilizado até hoje em todo o mundo. A categoria logo virou febre e se espalhou também pelo continente, onde personalidades já consagradas no automobilismo, como o inglês Stirling Moss, passaram a fabricá-lo.

A modalidade foi trazida para o Brasil pelo piloto e preparador Cláudio Daniel Rodrigues, que utilizou um chassi tubular bastante simples: basicamente duas longarinas, dois eixos, um suporte para o banco, outro para a direção e um motor traseiro. Como os aparadores de grama não faziam parte dos objetos de desejo nacionais, optou-se pelos motores de dois tempos e um cilindro, com 4 cavalos e 125cm³, utilizados nas bombas d`água, que empurravam esses carrinhos a velocidades que dificilmente superavam 70km/h. O tanque de gasolina, que já recebia a mistura do óleo dois tempos, era fixado ma parte de cima do banco, quase na nuca do piloto.

A estréia da categoria foi um campeonato organizado pelo Centauro Moto Clube, com três etapas disputadas em agosto, setembro e outubro de 1960, todas em São Paulo: duas no Jardim Marajoara e a última em um estacionamento do Parque do Ibirapuera. Os kartódromos ainda não existiam e as corridas eram disputadas em ruas normais, com os circuitos sendo demarcados apenas por fitas. Não havia qualquer margem para erros, já que a menor escorregada significava um choque contra a guia ou meio-fio. E, claro, sérios danos ao kart.

Na inaugural participaram diversos nomes que faziam sucesso no automobilismo nacional como Wilson Fittipaldi Jr., Ciro Cayres, Euclides Pinheiro e Maneco Cambacau, entre outros. Com o objetivo de atrair um público maior, os organizadores convidaram ainda para a primeira bateria eliminatória o ator Alberto Ruschel, que ao lado de Anselmo Duarte, era um dos maiores galãs da época e vinha fazendo grande sucesso com o filme "O Cangaceiro". A idéia quase terminou em tragédia quando o ator dublê de piloto perdeu o controle de seu kart, voou sobre a calçada, desabou barranco abaixo e, para desespero de seus fãs, despencou por uma densa mata até bater de frente em um eucalipto. A bateria seguiu e foi vencida pelo garoto Wilsinho Fittipaldi, de apenas 17 anos, que tinha na retaguarda, puxando a tal cordinha de ignição, o pai, o velho "Barão". Rubens Arantes cruzou em terceiro e também se classificou para a final.

A segunda eliminatória foi vencida por Hernani Brettas, pai deste que vos escreve, com Mário Sérgio Itapema e Maneco Cambacau fechando a lista dos pilotos que disputaram a bateria final. Um deles entraria para a história como o primeiro vencedor de uma corrida de kart em nosso país.
Um bom público compareceu ao evento. Participaram da cobertura a QUATRO RODAS, a Rádio Panamericana de São Paulo - futura Jovem Pan - , jornais e colunistas como Claudio Carsughi, que na época já escrevia para o HP, uma das primeiras publicações especializadas em esportes a motor. Uma festa! Wilsinho Fittipaldi largou na frente e liderou até ser ultrapassado na quinta volta por Hernani Brettas, que chegou a abrir uma boa vantagem até a 13º volta, quando a corrente de seu kart se rompeu. Wilsinho e Claudio Daniel passaram então a disputar a liderança e mantiveram uma luta feroz até a linha de chegada, com Cláudio vencendo por uma vantagem de menos de meio kart
Mas, se Claudio Daniel Rodrigues ficou com a vitória na primeira corrida, o título do primeiro torneio oficial acabou ficando com Wilson Fittipaldi Jr., com Hernani Brettas conquistando o vice-campeonato.

Com os karts de hoje atingindo velocidades de quase 200km/, fica a impressão de que pilotar aqueles primeiros modelos era moleza. Eu, que ainda não havia completado 5 anos quando esse primeiro torneio foi disputado, aprendi a dirigir, ainda pequeno, no kart do vice-capeão do evento, o quarto a ser fabricado no país. E me lembro vivamente de toda a dificuldade de fazer curvas em um veículo calçado com pneus de carrinho de mão. Isso mesmo, os pneus traseiros desses modelos eram os mesmos que equipavam os carrinhos de obra até hoje, pneus que foram desenvolvidos para transportar sacos de cimento ou areia em velocidade nunca superior a 2km/h. Por isso, não era de se estranhar que, de uma hora para outra, simplesmente explodissem, sem aviso prévio.

Conversando com alguns daqueles 14 pioneiros de 1960, fica claro que eles não tinham a menor dimensão da importância da modalidade que estavam ajudando a criar, uma categoria-escola de onde sairiam nomes como Emerson, Wilsinho e Christian Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Rubens Barrichello, Tony Kanaan, Hélio Castroneves, Cristiano da Matta. Maurício Gugelmin, Gil de Ferram, Chico Serra e quem mais você queira incluir. Sem o kart, a história de nosso automobilismo talvez tivesse sido muito diferente.

Reclame: Chassi tubular, motor 125 com 4 cavalos, transmissão "centromatic"... No início, o único fabricante de karts era Cláudio Daniel Rodrigues, que também era piloto.

2 comentários:

  1. Essa foi do fundo do baú,Cadu! Muito legal esse achado.

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  2. Bom dia amigo, sensacional o que vc encontrou. tenho uma página relacionada a karts antigos, e gostaria de saber se poderia me enviar estas fotos em tamanho maior, bem como a reportagem. aguardo, marcelo

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